PASSAGEM DE SOM | JOÃO BOSCO | 80 ANOS DE RIVAL
TEATRO RIVAL PETROBRAS APRESENTA
Nos dias 9 e 10 de janeiro, sexta-feira e sábado, e dias 16 e 17 de janeiro, sexta-feira e sábado, às 19h30
Eis uma cena que venho testemunhando inúmeras vezes, já há muitos anos: quando João Bosco vai testar o som, com o teatro ainda fechado, horas ou momentos antes de iniciar o show oficialmente dito, as poucas pessoas que, de algum modo envolvidas com a produção, podem estar por ali vão aos poucos interrompendo seus afazeres, e algumas chegam mesmo a sentar nas poltronas, como se fossem o público oficial, atraídas pelo que está acontecendo no palco. O que está acontecendo é João Bosco interpretando músicas e canções de seu repertório doméstico, íntimo, afetivo – que ele nunca gravou, nem mesmo executou publicamente. Trata-se de um repertório surpreendente, que percorre desde standards do jazz a trilhas de cinema, passando por clássicos de nosso cancioneiro, invariavelmente reinventados nos termos próprios do seu universo musical. Ninguém se levanta até que aquele show particular tenha fim; e não foram poucas as vezes que já o vi ser aplaudido, ali, no aquecimento, antes mesmo de a bola rolar.
É com esse antiespetáculo, um “show de bastidores”, que João Bosco comemorará os 80 anos do teatro Rival, e sua relação com a tradicional casa de shows carioca. Doméstico, íntimo, experimental, o show terá João Bosco apresentando suas leituras particulares de clássicos e pérolas obscurecidas pelo tempo, e conversando com o público sobre elas: sobre as canções, seus autores, seus modos de pensar a música e os modos como ele, João Bosco, as repensou. Música e metamúsica, portanto.
O repertório inclui muitas coisas surpreendentes, como sua leitura do standard “My favorite things”, ele mesmo radicalmente transcriado por John Coltrane, que, em passos gigantes, transformou a canção ingênua da trilha de A noviça rebelde em um transe jazzístico sem qualquer inocência. João Bosco dá outro salto e conduz a canção a Áfricas que ela jamais imaginou conter.
Em “Estate”, consagrada por João Gilberto no disco Amoroso, João Bosco submete a canção a um pensamento musical como que oposto ao do pai da bossa nova. Se João Gilberto tinha por método repetir a canção várias vezes, aprofundando-a como numa espécie de mantra, numa circularidade característica da música modal, João Bosco submete a canção a uma espécie de discussão, criando para ela um improviso especial e uma melodia alternativa, paralela à melodia original que tocamos abstratamente em nossa memória.
Num repertório atravessado pela memória afetiva, João Bosco não poderia deixar de trazer à tona sua Minas Gerais. É assim que ele interpretará o clássico seresteiro “Noite cheia de estrelas”, de Cândido das Neves, articulando-a ao clássico universal “Because”, dos Beatles, tornados música mineira pela borgiana influência retrospectiva que neles exerceu o Clube da Esquina – e faz o percurso musical desaguar em sua “Caça à raposa”, com o barroquismo onírico de suas melodia e letra.
Minas ainda retornará quando João Bosco unir seu samba “João do Pulo” (também dele e Aldir Blanc) à sua leitura de “Clube da esquina 2”. A associação, aqui, é, digamos, sócio-musical. O campeão mundial brasileiro, negro, que teve a perna amputada, é identificado à ambivalência da música de Milton Nascimento, tão objetivamente triste, tão subjetivamente alegre. Como se em ambos se revelasse a própria ambivalência brasileira, seus problemas sem solução, suas soluções sem problemas. Nosso mesmo núcleo originante de venenos e remédios, para usar a expressão de José Miguel Wisnik.
Muito mais há: “Milagre” (Dorival Caymmi), “April child” (Moacir Santos), “Medo de amar” (Vinicius de Moraes), além de alguns dos sempre esperados sucessos de sua autoria. O som de João Bosco passará, no Rival, por grandes ideias musicais, iluminando-as, ressignificando-as, mostrando aproximações insuspeitadas e diferenças singulares.
Francisco Bosco
Serviço: PASSAGEM DE SOM | JOÃO BOSCO | 80 ANOS DE RIVAL
Teatro Rival Petrobras
Dias 9 e 10 janeiro – sexta-feira e sábado, às 19h30
Dias 16 e 17 (sexta-feira e sábado), às 19h30
Rua Álvaro Alvim, 33/37 – Cinelândia – Tel: 2240-4469
Preço:
Setor: A / Mezanino
R$ 120 (Inteira)
R$ 60 (Meia entrada para estudantes, idosos e professores da rede municipal)
Setor: B
R$ 100 (Inteira)
R$ 80 (Promoção para os 100 primeiros pagantes)
R$ 55 (Meia entrada para estudantes, idosos e professores da rede municipal)
Classificação: 16 anos
Capacidade: 458 lugares