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O espetáculo “Domínio do escuro”, mistura relatos reais de idosos homossexuais e ficção

 

O documentário poético, contemplado pelo Fomento à Cultura Carioca na categoria LGBT, estreia no dia 26 de agosto na Lapa Crédito:  Renato Mangolin

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“Um dia estava almoçando com a minha avó e perguntei se ela tinha algum amigo ou conhecido homossexual. Silêncio, em seguida interrompido pela resposta: “Não me lembro de ninguém”. Insisti: “Ah, vó, que pena, estamos pesquisando esse tema”. De novo um silêncio interrompido pela revelação: “Minha irmã era”. E então, com a voz embargada, me contou sobre como minha tia-avó, Leila, que fora uma jogadora famosa de vôlei, sofria de uma ‘enfermidade’ que teve de esconder para não atrapalhar sua carreira ou sujar a reputação da família. O final não é feliz. Leila, ainda moça, se internou num hospital psiquiátrico. Logo depois faleceu, levando com ela todo o peso de estar errada e desconforme com a sociedade em que vivia. O pouco que sabemos da história da minha tia-avó é repleto de hipóteses de ‘talvez’ e ‘eu acho que ela…’. O que não sabemos está para sempre silenciado.”

Histórias como essa contada pela atriz Lívia Paiva (23 anos), resgatadas ao longo do processo de pesquisa da peça, justificam a importância do projeto, segundo a dramaturga e diretora Juliana Pamplona, idealizadora do espetáculo “Domínio do escuro”, com estreia marcada para o dia 26 de agosto na Sede das Cias, na Lapa. Trata-se de um documentário poético teatral. A dramaturgia foi criada a partir de registros antigos – fotos, slides, desenhos e cartas – e depoimentos gravados de idosos homossexuais, dos quais muitos tiveram suas histórias silenciadas em algum momento da vida e quiseram, agora, deixar seus relatos. “A ideia inicial foi a de resgatar e produzir registros de um legado que não chegou até nós. Conversamos com os idosos sobre assuntos diversos como amor, medo, vergonha e sexualidade. Foi muito interessante esse encontro de gerações – entre os oito idosos entrevistados, quase todos na faixa dos 70 e 80 anos, e os atores da peça, todos com vinte e poucos anos. Foi uma troca muito rica”, diz Juliana. “A escolha de juntar essas duas gerações nesse projeto não foi à toa. A peça é, também, uma pergunta (em aberto) à nova geração sobre o que significa assumir modos de ser e de se relacionar que resistem aos padrões normativos hoje e de que maneira a discussão de sexualidade e de gênero atravessa suas projeções de futuro, seus desejos de mundo. Foi por meio da interseção entre essas projeções de futuro e memórias, que o material poético e estético de “Domínio do escuro” foi criado”, complementa.

Três jovens atores – Clarisse Zarvos, Lívia Paiva e Pedro Henrique Müller – levam à cena versões performatizadas desse material documental. “Falar de desejos silenciados de uma geração distante da minha é visitar memórias e atualizar uma infinitude de afetos. O amor entre pessoas do mesmo sexo há alguns anos representava um tabu maior do que representa hoje, mas que nem de longe está superado. Quais situações impensáveis e silenciadas atualmente serão resgatadas pelas gerações seguintes?”, questiona a atriz Clarisse Zarvos, de 25 anos. O espetáculo conta também com a criação de videografismos produzidos por Pedro Modesto e trilha sonora de Jonas Sá, recursos fundamentais para que as histórias fossem contadas na forma performática desejada para a forma da cena.

“Domínio do escuro” é uma resposta (em aberto) a uma dívida histórica, que faz com que, ainda hoje, haja uma ausência enorme de narrativas de idosos gays e lésbicas (além de outras identidades de sexualidade antes não classificáveis e que vêm ganhando visibilidade). A criação desse espaço cênico dá visibilidade a histórias desviantes que, de outro modo, seriam apagadas muito em breve, acumulando mais legados invisíveis à margem da história normativa.

Unindo investigação artística ao compromisso com uma dívida histórica, “Domínio do escuro” estará em cartaz de 26 de agosto a 18 de setembro, às quartas, quintas e sextas, sempre às 20h, na Sede das Cias., que fica na Escadaria Selarón, no boêmio bairro carioca.

 

Ficha técnica:

Direção e dramaturgia: Juliana Pamplona

Elenco: Clarisse Zarvos, Lívia Paiva e Pedro Henrique Müller

Preparação corporal: Duda Maia

Cenário e Figurino: Elsa Romero

Iluminação: Lara Cunha

Vídeos: Pedro Modesto

Trilha Sonora: Jonas Sá

Programação Visual: Clarice Pamplona

Produção executiva: Clarisse Zarvos e Marina Gadelha

Direção de Produção: Fernanda Avellar

Realização: Trestada Produções

 

Serviço:

Local: Sede das Cias (Rua Manuel Carneiro, 12 – Escadaria Selarón – Lapa)

Data: De 26 de agosto a 18 de setembro

Horário: de quarta a sexta, às 20h

Ingressos: R$ 20 reais a inteira, R$ 10 reais a meia

Duração: 70 min.

Gênero: Documentário LGBTTQ

Classificação: 16 anos

Lotação: 60 lugares

Informações: (21) 2137-1271 (a partir de 14 horas)

Bilheteria: diariamente, uma hora antes do espetáculo Informações: (21) 2137-1271

 

 

 

 

CURRÍCULOS

Juliana Pamplona

Juliana Pamplona é dramaturga, diretora e pesquisadora na faculdade de Letras da UFRJ por meio do Pós-Doc da FAPERJ Nota 10. Bacharel em Teoria do Teatro (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO) e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas na UNIRIO, foi também pesquisadora visitante no departamento de Performance Studies na NYU (New York University, 2012.2) por meio da CAPES/PDSE. Teve o seu projeto “Desestabilizadores de Cena” contemplado com a bolsa de pesquisa e criação artística da Secretaria de Cultura – RJ (2011), resultando na peça de sua autoria “O céu sueco”. Ministrou as oficinas curtas “Sesc Dramaturgia: Leituras em Cena” (entre 2009 e 2013) no Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo e Santa Catarina. Fez a dramaturgia da montagem teatral da Cia. Os Dezequilibrados “Beija-me como nos livros”.

CLARISSE ZARVOS

Atriz, tem graduação em Artes Cênicas pela UNIRIO e é doutoranda em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC/ Rio. Atualmente está em cartaz com a peça “Contra o vento” (dir. de Felipe Vidal, no CCBB RJ) e ensaia a peça “Domínio do escuro” (dir. de Juliana Pamplona, estreia prevista para agosto na Sede das Cias/ RJ). No teatro, destacam-se ainda os seguintes trabalhos: “Couve-flor” (2014/ 2015, dir. de Caio Riscado), “Na República da Felicidade” (2014, dir. de Felipe Vidal), “Estudos para uma odisseia” (2013, dir. Thierry Trémourroux), “Noites brancas” (2012, dir. Thierry Trémourroux), “A way to b” (2011, dir. de Ria Marks) e “Depoimentos às terras do Brasil” (2007/2009, dir.deOrlando Arocha – indicada prêmio de atriz revelação no XVI Festival de Teatro do Rio, em 2009). Com o Coletivo Oh, Céus! em parceria com Helena Bittencourt e Goos Meewusen, realizou os espetáculos “O crocodilo” (2013/2014), “Antes que seja dia” (2011) e “Baile” (2008).

Lívia Paiva

Atriz e pesquisadora formada pela CAL e integrante da Probástica Cia de teatro, que em 2011 estreou “[des]conhecidos” e em 2013 “Elefante”. Seus últimos trabalhos como atriz são: “Domínio do escuro” de Juliana Pamplona, “Amores” de Domingos Oliveira, “Sarau das putas”, de Ivan Sugahara, “A partir das três irmãs” do diretor francês Vincent Macaigne no Tempo Festival, “TERRA”, direção de Malu Valle, “Leve-me assim” de Vitor Barbarisi e “Relações Perigosas”, de Marcelo Morato. Como autora, assinou a dramaturgia do espetáculo “De onde vem o vento” e de “Fala comigo como a chuva e me deixa ouvir” com Ivan Sugahara, ganhador do prêmio Cesgranrio de melhor espetáculo. Participou do projeto “Viagens Imaginárias” sob supervisão de Aderbal Freire Filho e direção de ThierryTremouroux. É mestranda na UFRJ na linha de pesquisa “Direitos humanos, sociedade e arte”. Fez intercâmbio para a Universidade de Paris VIII onde participou do “Festival de l’auterité”.

Pedro Henrique Müller

Ator formado pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) no ano de 2011, atualmente cursa o bacharelado em Artes Cênicas – Teoria e Estética do Teatro na UNIRIO. Atuou no curta-metragem “Embriagados” de J.P. Pacca (2011, Dir: J.P. Pacca). Integrou em 2011 o espetáculo “Divinarias” a partir do romance “Nossa Senhora das Flores” de Jean Genet. (Dir.: Inez Vianna; Teatro Gonzaguinha, RJ). Em 2012 atuou na peça “A Prova de Fogo” de Consuelo de Castro (Dir.: Vera Fajardo). No início de 2013 participou da montagem “120 Dias de Sodoma” – adaptação da obra de Marquês de Sade (Dir.: Luiz Furlanetto; Fosfobox); foi indicado ao prêmio do III Festival de Teatro Universitário do Rio de Janeiro (FESTU-Rio), na categoria de melhor ator pela encenação de “Eu Sei Que Vou Te Amar” (Dir.: Amanda Tedesco) em 2013; Em 2013 também participou da montagem de “O Tempo e os Conways” de J. B. Priestley (Dir.: Vera Fajardo; Sesc Casa da Gávea) e no espetáculo “Rebeldes – Sobre a Raiva” texto de Edna Rezya adaptado por Rodrigo Nogueira (Dir.: Rodrigo Nogueira e Fabricio Belsoff; Espaço Tom Jobim – Galpão). Participou do projeto “Uma Odisseia”, pesquisa cênica realizada em colaboração com a Cia Instrumento de Ver em Brasília a partir do poema épico de Homero (Dir.: Thierry Tremouroux; Espaço Pé Direito). Com o grupo Teatro Voador Não Identificado participa da montagem de “O processo”, adaptação do romance homônimo de Franz Kafka (Dir.: Leandro Romano; Sede das Cias / Teatro Ipanema) em 2014 e 2015.

Trestada Produções:

Trestada Produções Artísticas produz espetáculos teatrais que dialogam com as contradições sociais e valorizam a pesquisa de linguagem cênica. Com o objetivo difundir o teatro nos mais diversos setores sociais, busca parcerias que se disponham a refletir sobre suas funções e responsabilidades na sociedade contemporânea. Em 2015, além de ser novamente contemplada com o Fomento à Cultura Carioca com “Domínio do Escuro”, foi selecionada no prêmio Funarte Artes na Rua, com o espetáculo “Vertigem”, que será dirigido por Cláudio Baltar. É a produtora proponente pela realização do espetáculo “70 anos de Gonzaguinha, o musical”, em fase de captação de recursos e com estreia prevista para o fim deste ano.

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Redação Rio Notícias

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