Saúde & Bem Estar

Diário de um médico que foi contaminado pelo Covid-19

Por: José Alexandre Araújo, Urologista

Comecei a ter os primeiros sintomas no dia 18 março, quarta-feira. Com pouca tosse, uma tosse bem inespecífica, e na noite de quarta-feira tive febre baixa.

Na quinta-feira, dia 19 de março, acordei bem. A tosse um pouco mais frequente, mas não imaginava que estivesse doente com o vírus. Afinal, na quarta trabalhei normalmente no Hospital Federal do Andaraí, operei, tive reunião com os residentes. No dia seguinte, quinta-feira, também trabalhei normalmente em Itaguaí só com tosse. Porém comecei a ter febre novamente e eu e minha esposa optamos pelo meu isolamento. Na quinta a tosse piorou e a febre aumentou muito.

Na sexta-feira, dia 20, mantive febre muito alta de 39 º C/ 40 º C fiquei o dia inteiro de cama e surgiu o que chamamos encefalite, uma dor de cabeça enorme que não respondia nem a dipirona, além de tosse.

No sábado também fiquei de cama o dia inteiro com febre alta, dor de cabeça e tosse. No domingo mantive febre, mas não estava tão constante e dor de cabeça. Porém comecei a ter falta de ar. Essa falta de ar foi piorando conforme os dias foram passando e a febre melhorando. A partir do domingo comecei a ter uma febre mais espaçada, ao invés de febre a cada 6/8 horas, comecei a ter febre no máximo 3 vezes ao dia.

De segunda à sexta mantive febre de aproximadamente 37.8º C uma vez ao dia principalmente a noite. A falta de ar que começou no domingo aumentou um pouco na segunda. De segunda para terça ela aumentou ao ponto de me faltar o ar nos mínimos esforços. Ficava cansado com uma simples conversa ao telefone, tanto que minha comunicação estava, na grande maioria, através de troca de mensagens. A falta de ar é muito ruim, e gera um medo maior de piorar a qualquer momento e ter que ir para o hospital.

Conseguia dormir bem, porém quando levantava da cama já tinha dispneia. Porém na quinta acordei cansado, acordei com mais falta de ar, não conseguia comer, tive que pedir para minha esposa cortar o pão para comer. Neste dia como estava pior nós optamos por ir ao hospital. Fomos ao Copa Dor, lá vi minha saturação de oxigênio e estava normal, graças a Deus, fiz a tomografia e apareceram as pneumonias dos dois lados no pulmão e estava com o aspecto de “vidro fosco” que sempre é mencionado nas reportagens, mas estava espalhado pelo pulmão e em pouca quantidade. Como a quantidade estava pequena e minha saturação de oxigênio estava normal os médicos optaram por me mandar para casa, mas sendo orientado a qualquer piora da falta de ar ou se febre voltasse a ficar mais frequente era para voltar para o hospital para internar.  Voltei para casa e ao longo dia melhorei um pouco. Na sexta permaneci cansado.

No sábado acordei melhor, tanto que fiquei bem empolgado. Já haviam passado 10 dias de doença, então como estava melhor na minha cabeça ia evoluir bem e já ia acabar. Porém no domingo acordei mal novamente, com cansaço pior que no dia anterior, muita tosse, ao ponto de conversar e ficar cansado. Nesse dia estava completando o 11º dia de doença, não tive piora da febre, a dispneia estava se mantendo ainda aos mínimos esforços, mas não vi necessidade de voltar ao hospital. Sempre isolado, sem contato com ninguém e com muito medo.

O medo é algo que nos consome psicologicamente, parei de ver TV desde o quarto dia de doença, pois só apareciam notícias ruins de pessoas indo para o CTI dos hospitais, pessoas morrendo. E acreditem, você acha que vai morrer. Principalmente nós que somos médicos e sabemos as complicações que podem ocorrer. Pensar em ser entubado é algo que deixa a gente com muito medo, tanto que perdi quatro quilos em uma semana. Eu não conseguia comer e quanto mais preocupado eu ficava, mas medo eu tinha e menos fome eu sentia. Fiquei desidratado, meu rosto descascou por completo. Os dias foram passando. No domingo dormi mal, na segunda, já era meu 12º dia doente, acordei estável ainda cansado e bem desanimado porque os dias da doença já estavam chegando ao final e eu não melhorava, só a febre que tinha cessado. Sexta foi último dia de febre.

Na terça ao longo do dia, 13º dia, a tarde ainda estava cansado, mas nessa noite a falta de ar melhorou e fui dormir sem falta de ar. Na quarta, 14º dia de doença, acordei sem cansaço, sem falta de ar, sem nenhum sintoma. Neste dia acabava meu isolamento e fui fazer um novo teste no Hospital da UFRJ, já estava sem cansaço nenhum, apenas com tosse. Não é normal em nenhuma doença acordar de uma hora para outra sem sintoma nenhuma, apenas nesse vírus isso acontece. Não estou sentindo mais nada. Voltei a trabalhar segunda, dia 6 de abril, super bem.

Só para constar no sexto dia de doença eu fui ao Hospital da UFRJ e fiz o exame, em menos de 48h o resultado estava pronto, atestando o resultado positivo para o Covid-19 e no 14º dia voltei no Hospital da UFRJ e fiz novo exame. Ficou pronto na segunda (6 de abril) mostrando que não tinha mais doença nenhuma.

Venci essa guerra! E não posso deixar de ressaltar o apoio que todos me deram. O apoio psicológico é uma coisa muito importante nessa doença pois ela nos consome psicologicamente. Apoio dos meus amigos, colegas. Da minha esposa que foi amiga, enfermeira, médica e mãe, que cuidou de mim da melhor forma possível, mesmo com medo me dando o maior apoio possível. Todo esse apoio nos ajuda muito nos altos e baixos da doença, principalmente nos baixos.

Para mais informações,
Helcio Alves – (21) 99594 1958

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Redação Rio Notícias

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